Evitar o Rebound Effect na transição para LED
A quantidade média de luz da iluminação pública em Portugal subiu 120% só nos últimos cinco anos! Urge evitar que a poupança energética associada à transição para LED seja compensada com iluminação desnecessária
A iluminação LED (Light Emiting Diode), que se generaliza na década de 2010, representa uma verdadeira revolução na iluminação, algo a que não assistíamos desde a invenção da lâmpada elétrica por Thomas Edison, no final do século XIX.
De entre as muitas vantagens da tecnologia LED sobre as lâmpadas convencionais, destaca-se a economia. Em média, as lâmpadas LED permitem poupar cerca de 70% de energia para a mesma quantidade de luz, o que associado a um preço cada vez mais competitivo tem motivado, e bem, a transição generalizada para esta tecnologia. Esta mudança é transversal aos vários mercados, podendo verificar-se na iluminação doméstica, nos automóveis, na indústria e, naturalmente, na iluminação pública.
Neste último segmento, a substituição por LED tem permitido aos municípios obter poupanças significativas nos custos de energia, tendo ainda o efeito benéfico de reduzir significativamente as emissões de dióxido de carbono (CO2), fruto da poupança energética resultante da elevada eficiência das luminárias LED.
Mas “nem tudo são rosas”. Um dos fatores que recentemente tem sido apontado à iluminação LED é o de contribuir para aumentar a poluição luminosa e a degradação da visibilidade do céu noturno, que interferem não só na observação astronómica como também no equilíbrio dos ecossistemas e no ritmo circadiano – o compasso que rege o nosso relógio biológico –, podendo por isso provocar efeitos negativos na saúde humana.
Basta uma breve análise para perceber que o problema da poluição luminosa não deriva da tecnologia LED, mas sim da quantidade de luz. Isto é, trata-se de um problema humano e de aplicação, não tecnológico.
Melhor iluminação sem luz adicional
Quando analisamos os dados históricos de luminárias LED para iluminação pública, em Portugal, observamos que a quantidade média de luz subiu 120% nos últimos cinco anos – isto significa que estamos a colocar mais do dobro da luz quando comparamos com a iluminação pré-existente!
Este efeito, apelidado de Rebound Effect, tem sido verificado por vários cientistas e corroborado pelas análises de satélite, que demonstram um aumento gradual da poluição luminosa nos últimos anos. Frequentemente, a poupança energética resultante da transição para LED é contrabalançada pela aposta em iluminação adicional, muitas vezes desnecessária, concluindo-se, portanto, que luz mais barata não leva a maior poupança, mas sim a projeção de mais luz (1).
Obviamente, o problema não está no LED
É importante sensibilizar as populações e os decisores políticos para a redução da poluição luminosa, como já mencionado no artigo Recuperar o céu estrelado com tecnologia LED. A tendência é colocar sempre mais luz, pois melhora a acuidade visual e aumenta a perceção de segurança. Mas essa tendência deve ser evitada. Na via pública é sempre necessário encontrar o equilíbrio certo.
É extremamente importante que os projetos de substituição para LED respeitem os níveis de iluminação preexistente e não caiam na tentação de os aumentar. Adicionalmente, deve ser privilegiada a utilização de LED âmbar e, sempre que possível, implementados sistemas inteligentes de controlo e regulação de fluxo como o ECCOS, que permitem reduzir a intensidade luminosa nas horas de menor atividade, para além de poupanças adicionais de energia.
A luz, como qualquer outro recurso, deve ser usada com responsabilidade e moderação. Cabe-nos a todos, entidades públicas e cidadãos, adquirir esta consciência e, se necessário, criar legislação conforme que possa garantir a sustentabilidade, ao nível económico e ambiental, e promover a saúde.
Miguel Allen Lima
ARQUILED CEO
(1) https://skyandtelescope.org/astronomy-news/lost-led-revolution-light-pollution-increasing/