A nova forma de trabalhar… no futuro
Em artigo de opinião publicado no Notícias ao Minuto, Miguel Allen Lima afirma que a pandemia de COVID-19 acabou com as ideia feita de que um trabalhador à distância "não é produtivo ou interessado" e que o teletrabalho "pode contribui para uma menor coesão da equipa". E aponta a Arquiled como exemplo justamente do oposto.
Este artigo foi publicado originalmente no Notícias ao Minuto, aqui.
Se há algo que a pandemia de COVID-19 trouxe foi uma clarificação do trabalho remoto ou teletrabalho, como se queira chamar, às empresas portuguesas em particular às PME.
Durante bastante tempo subsistia a ideia de que um colaborador que não efetuasse o seu trabalho presencialmente não era um trabalhador produtivo ou interessado e que o facto de estar ausente do escritório poderia contribuir para uma menor coesão entre a equipa.
Creio que é seguro dizermos, à data de hoje, que uma grande parte das empresas nacionais já não pensam desse modo. E porquê? Porque efetivamente as pessoas em teletrabalho renderam muito mais e estiveram muito mais focadas, mesmo estando sob um confinamento forçado e tendo que gerir a sua vida pessoal, sobrecarregada pelo acompanhamento das aulas dos filhos e de todas as tarefas domésticas. Sim, é verdade os colaboradores foram mais produtivos e as equipas também, consequentemente também as empresas.
Em boa parte, esta produtividade coletiva deve-se à forma atual de trabalho colaborativo e às ferramentas digitais que permitem essa cooperação.
O avanço tecnológico, a oferta diversificada de aplicações e ferramentas e a consequente acessibilidade vieram facilitar a operacionalidade das empresas, mesmo as mais pequenas. Com um computador portátil, um telemóvel e as aplicações na nuvem, toda a informação e aplicações passam a ser acessíveis a partir de qualquer local, através de uma ligação segura.
Por último, as ferramentas de colaboração, seja para conversação seja para videoconferência ou chamadas de voz. Deste modo, qualquer empresa passa a poder operar desmaterializada, a partir de qualquer lugar.
Contudo, isto é apenas a infraestrutura tecnológica, um fator da equação, mas que só por si não é suficiente. Para que a solução fique completa falta o fator humano, para assegurar a ligação entre a equipa e a motivação e compromisso das pessoas com a empresa.
É preciso capacitar cada um dos colaboradores atribuindo-lhes responsabilidade e objetivos claros, envolvendo-os no desempenho da empresa e dando-lhes autonomia. Tão importante quanto as reuniões de trabalho diárias ou semanais são os momentos de proximidade e convívio entre os colaboradores, em especial em equipas que trabalham à distância. Estes são alguns dos fatores que potenciam a motivação dos colaboradores e o seu envolvimento com a empresa executando, por isso, um melhor trabalho.
O exemplo Arquiled
Creio que o melhor exemplo que posso dar é o da minha empresa e o que aconteceu connosco na Arquiled. Quando a pandemia chegou já tínhamos todo o processo de desmaterialização da empresa montado, até porque operamos em várias geografias. Antes mesmo da declaração do estado de emergência, já tínhamos optado por uma quarentena voluntária, passando todas as funções que o permitiam para trabalho remoto, inclusive as da fábrica, em Mora. A decisão foi comunicada num dia e no dia seguinte estávamos todos a trabalhar a partir de casa.
Do ponto de vista tecnológico, tudo correu bem. Cada um trabalhava ao seu ritmo, com reuniões programadas para sincronismo das equipas. No entanto, sentimos que faltava algo, aquelas ocasiões extratrabalho de falarmos de tudo e de nada. Claramente, faltava a componente social!
Como temos uma equipa fantástica, rapidamente arranjámos uma solução. Passámos a usar o Yammer, uma rede social fechada apenas dentro da empresa, e que tem como única regra não falar de trabalho! É como aquele café que tomamos juntos no escritório e em que falamos de coisas do quotidiano, só que transpusemos essa sociabilização para o mundo virtual. Trocamos receitas, participamos em passatempos e ‘postamos’ fotos e vídeos de momentos divertidos do nosso dia a dia.
Além disso, passámos a fazer acompanhamento de proximidade, em que os gestores reservam algum tempo para ligar aos colaboradores, simplesmente para conversar. Todos estes aspetos tiveram (e têm) um forte impacto na moral e no espírito da equipa. E, apesar de toda a tecnologia, somos seres sociais e essa componente mostrou-se fundamental para garantir a coesão e a produtividade.
Não usamos ferramentas de controlo de presenças e não obrigamos a um horário rígido, mas fazemos questão que os colaboradores percebam que devem criar a separação entre tempo profissional e tempo pessoal. É importante criar e motivar essa disciplina.
E, apesar das mudanças, a produtividade da empresa tem funcionado normalmente, com bons resultados. O trabalho continua a ser feito como se estivéssemos todos no escritório. O negócio internacional inclusive tem acelerado pois, de alguma forma estamos todos nas mesmas circunstâncias, e as videoconferências não têm fronteiras.
Acredito que daqui para a frente cada vez mais empresas adotarão o trabalho à distância e que o futuro passa por um modelo híbrido de sessões presenciais em conjunto com cenários de teletrabalho mais abrangentes.